Dia da comunidade libanesa no Brasil: famílias de descendência árabe celebram a cultura do Líbano no interior de SP

Restaurante libanês promove eventos com apresentações de dança e música em Sorocaba 🐪 Mesmo com barreiras de idiomas, dificuldade de acesso ao mercado d...

Dia da comunidade libanesa no Brasil: famílias de descendência árabe celebram a cultura do Líbano no interior de SP
Dia da comunidade libanesa no Brasil: famílias de descendência árabe celebram a cultura do Líbano no interior de SP (Foto: Reprodução)

Restaurante libanês promove eventos com apresentações de dança e música em Sorocaba 🐪 Mesmo com barreiras de idiomas, dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, legalização de documentos e moradia, a comunidade libanesa se manteve forte e conseguiu se estabelecer no Brasil desde o início da imigração para o país, no final do século XIX, tornando o Brasil a "maior casa" de libaneses do mundo, superando, até mesmo, a população do Líbano. Neste sábado (22) é celebrado o Dia da Comunidade Libanesa no Brasil, conforme institui a lei nº 12.268, de 21 de junho de 2010. Segundo a Associação Cultural Brasil-Líbano, entre cidadãos e descendentes, existem aproximadamente 8 milhões de pessoas morando no Brasil, o que supera o número de habitantes do Líbano, com apenas 5,8 milhões. 📲 Participe do canal do g1 Sorocaba e Jundiaí no WhatsApp Com tanta gente que descende da cultura árabe no Brasil, não é difícil encontrar este público no interior paulista. O g1 conversou com descendentes libaneses de Sorocaba e São Miguel Arcanjo (SP), que se orgulham de suas histórias durante a imigração e compartilham diferentes costumes que seguem sendo honrados e praticados até hoje. 🍽️ Família Marum Com parentes distribuídos em diferentes cidades do interior de São Paulo, como Boituva e Salto de Pirapora, a história da família Marum, no Brasil, começou no solo fértil de Piedade, por volta de 1911. Época em que a primeira libanesa da família, Hanna Marum, chegou na região com cinco filhos. Paulo Rafael de Miranda, descendente dos Marum, se casou com a chefe de cozinha Juliana Niedo. O casal empreendedor, que também trabalha com fotografia, é de Sorocaba e administra um restaurante de comida libanesa há seis anos, no bairro Cidade Jardim. Veja um vídeo de eventos realizados no restaurante no início da reportagem. Casal de empreendedores de Sorocaba (SP) celebra cultura árabe em restaurante temático Beatriz Pereira/g1 Ao g1, Paulo contou que os Marum praticamente "povoaram" Piedade, por isso existem tantos comércios com este sobrenome na região. "A minha bisavó chegou aqui em 1911, veio refugiada, ela morava entre a Síria e o Líbano, em uma região muito alta, um local frio que nevava, até que um dia chegou uma carta embaixo da porta dela no vilarejo dizendo que iam matar ela e a família dela por ser cristã, e aí ela acabou saindo daquela região, entrou no porão de um navio e foi pra Europa", contou Paulo. A bisavó não ficou por ali, devido a pandemia da gripe espanhola, ela acabou indo para os Estados Unidos com seus seis filhos, onde um deles conseguiu manter residência. Ela e os outros foram embora devido às regras de permanência do país, atracando, finalmente, no Rio de Janeiro. Já no Brasil, Hanna começou a procurar pelas melhores oportunidades de terras férteis para começar uma lavoura, foi quando encontrou a região de Sorocaba e se apaixonou pela cidade de Piedade, que era pequena e lembrava muito o vilarejo onde morava. Séculos depois, na geração de Paulo, que já estava morando em Sorocaba, ele conheceu a esposa em uma casa de shows, ou pelo menos achou que havia conhecido, porque por ironia do destino, já havia flertado com ela seis anos antes, durante uma cerimônia de formatura onde trabalhou como segurança, mas não haviam se identificado um para o outro. Pão sírio, também chamado de pão pita, é uma das especialidades de restaurante libanês em Sorocaba (SP) Beatriz Pereira/g1 "Estamos há 14 anos juntos, 11 anos de casados, temos dois filhos e temos culturas diferentes. Eu nasci em Rondônia e vim com a mminha família para cá, mas nunca tinha tido contato com a cultura libanesa antes", contou Juliana. O negócio do casal surgiu na época da pandemia, inicialmente com a venda de quibes e esfirras; porém, com a popularidade das receitas, o casal usou a antiga loja de antiquário da família para inaugurar o bistrô, que oferece, além da comida árabe, uma experiência histórica e cultural, com curiosidades sobre o país, apresentações de dança e de música, tudo com um pedacinho da família Marum. O local é intimista e acolhedor, decorado com diversos itens da cultura árabe como camelos, bules e temáticas, com artigos que, inclusive, vieram de Dubai ou antiquários. Restaurante possui diversos itens da cultura árabe em Sorocaba (SP) Beatriz Pereira/g1 "A minha mãe com meu tio se reuniam muito, né? A família toda era muito unida, então, as lembranças que tenho da infância são do meu tio fazendo cordeirada, as mulheres faziam charuto. Tem muita memória afetiva no sentido da gastronomia, eu nunca imaginei que teria um bistrô, mas eu sou o único da família Marum que tem um bistrô, então eu levo isso como missão", disse Paulo. Um dos destaques da casa é o pão sírio, também chamado de pão pita, que é aquecido na hora, na mesa do cliente, e servido com azeite. Pão sírio, também chamado de pão pita, é servido com azeite, em restaurante temático de Sorocaba (SP) Beatriz Pereira/g1 Apesar de não conhecer o Líbano e não falar árabe, um dos sonhos do casal é poder fazer uma pesquisa de campo no país e trazer ainda mais identidade para o bistrô, que chama a atenção de pessoas que já experimentaram a culinária do Líbano e tecem elogios à chef Juliana. Ela, apesar de ser de Rondônia, tem a "mão libanesa", segundo Paulo. Para os Marum, fazer parte da comunidade libanesa no Brasil é uma forma de homenagear os descendentes e os árabes que seguem morando no continente asiático, que enfrentam bravamente os reentes conflitos violentos, políticos e religiosos. "Eu acho eu acho que os árabes são pessoas muito guerreiras, por tudo que eles vivem lá (Ásia), porque no Brasil a gente tem muita liberdade, muita liberdade de expressão, lá nos países deles, eles não têm essa liberdade, sofrem com guerras e esse é um dos motivos deles virem pra cá (Brasil). Mesmo em meio a tudo isso que eles vivem, eles conseguem ver que são felizes, têm família, têm valores lá (...) Mas também acho que o Brasil é um lugar ideal para recebê-los também, porque nós somos um povo que recebe, que acolhe, a gente se solidariza com o outro", destacou Juliana. Restaurante libanês de Sorocaba (SP) oferece experiência com música e dança Beatriz Pereira/g1 Família Hakim Viajando 86 quilômetros de Sorocaba, na cidade de São Miguel Arcanjo, a família Hakim também veio refugiada para o Brasil. Ao g1, o assistente administrativo Ian Hakim Elias contou que sua família chegou ao interior paulista em 1919, fugindo das perseguições políticas e religiosas que assolavam a Síria e o Líbano. "Vieram junto da grande imigração (parentes), todos de navio, e desembarcaram inicialmente em São Paulo, para tentar estabelecer vida por lá. Por limitações de idioma e alto custo de vida, se mudaram para cidades do interior, como São Miguel Arcanjo. Trabalharam como mascates, vendedores, depois passaram a integrar o campo político, educacional e esportivo e por aqui se estabeleceram até hoje", contou o rapaz. Bisavós de Ian Hakim, Amélia Hakim e Miguel Jacob vieram para o Brasil durante as imigrações de libaneses Ian Hakim/Arquivo pessoal Ian cresceu em um bairro afastado do Centro de São Miguel, por isso, vivia indo para a casa da avó, que era conhecida como Dona Odete. Segundo o jovem, a casa vivia lotada de pessoas, de amigos a familiares, e tinha um banquinho do lado de fora, onde as pessoas se reuniam para conversar e tomar café com diversas receitas árabes. "Era bem no centro da cidade (casa da avó), tinha um banco de cimento em baixo da janela da sala, onde ela sempre ficava olhando o movimento. Sempre tinha chancliche (queijo árabe) na geladeira. Lembro de por vezes ter pessoas falando árabe dentro da casa dela e sempre que saíamos comer em restaurantes árabes em outras cidades, porque ela adorava conversar em árabe com os donos", disse Ian. Ian Hakim se lembra de tradições libanesas com a família, em São Miguel Arcanjo (SP) Ian Hakim/Arquivo pessoal Por mais que não tenha aprendido mais nada além do cumprimento "Salaam Aleikum", que significa "que a paz esteja convosco" em português, Ian se lembra mais da culinária libanesa e das reuniões em família, que sempre reservam um espaço para pelo menos dois pratos árabes. "É impossível não falar da comunicação árabe. Era comum as reuniões familiares serem quase aos berros, mas não em teor de conflito, era algo normal falar alto, gesticular e diálogos recheados de expressões", conta o rapaz. Outros destaques de diferenças culturais entre árabes e brasileiros notadas por Ian são a hospitalidade e as relações comerciais. Para os árabes, a hospitalidade é um valor central nas famílias, pois buscam oferecer comidas, cafés, doces e realmente insistir para que o convidado coma, parecendo até meso um ritual, segundo o jovem. Além disso, a maioria das comidas são feitas para comer com as mãos, mergulhar pães, quibes, pastéis de ariche e charutos, coisa que se não é vista ao visitar lares brasileiros. "A relação com o trabalho também sempre foi muito forte, os árabes sempre guiados pela disciplina financeira. É algo que vai um pouco além do estereótipo, viveram longos períodos de imigração e, na iminência de deslocamento emergente e perseguição. Então sempre presenciei a cultura do empreendedorismo, independência e a gestão de recursos como algo super fundamental", pontua Ian. O jovem ainda não conheceu o Líbano, mas tem vontade de de poder ver o país, a culinária e a sua cultura ancestral. Entre alguns itens que guarda de sua família estão uma bíblia em árabe, um quadro e um pilão. Jovem descendente de libanees, de São Miguel Arcanjo (SP), guarda bíblia em árabe Ian Hakim/Arquivo pessoal Quadro árabe é herança da família Hakim, de São Miguel Arcanjo (SP) Ian Hakim/Arquivo pessoal Pilão da família Hakim, libaneses que se mudaram para São Miguel Arcanjo (SP) Ian Hakim/Arquivo pessoal Veja mais notícias da região no g1 Sorocaba e Jundiaí VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM