Brigitte Bardot: carreira, vida pessoal e polêmicas da atriz francesa
Brigitte Bardot morre aos 91 anos A atriz e cantora francesa Brigitte Bardot morreu neste domingo (28), aos 91 anos. Mundialmente conhecida desde a década de 1...
Brigitte Bardot morre aos 91 anos A atriz e cantora francesa Brigitte Bardot morreu neste domingo (28), aos 91 anos. Mundialmente conhecida desde a década de 1950, ela se tornou um dos maiores símbolos do cinema francês e da cultura do pós-guerra, antes de abandonar as telas para se dedicar à defesa dos animais. Ao longo da vida, construiu uma trajetória marcada tanto pelo estrelato internacional quanto por controvérsias e posicionamentos políticos que dividiram opiniões. Leia ainda Brigitte Bardot: relembre carreira em FOTOS Adeus à Bardot: veja repercussão Nascida em Paris, Bardot teve uma formação artística precoce. Ela nasceu em 1934 e começou a carreira no balé clássico. Aos 15 anos, já atuava como modelo, o que abriu caminho para sua entrada no cinema. A estreia nas telas ocorreu em 1952, mas a projeção internacional veio em 1956, com "E Deus Criou a Mulher", dirigido por Roger Vadim. O filme causou impacto ao retratar uma mulher jovem, sensual e independente, rompendo padrões morais da época. O longa chegou a ser censurado em Hollywood, mas consolidou Bardot como símbolo sexual e, posteriormente, como ícone de liberdade feminina. Foi nesse período que a atriz passou a influenciar não apenas o cinema, mas também a moda e o comportamento. O cabelo loiro platinado, propositalmente desalinhado, e o delineado preto marcante nos olhos se tornaram sua assinatura estética, copiada por mulheres em diferentes países. Ao longo da carreira, Bardot trabalhou com alguns dos principais cineastas europeus e atuou em produções como "A Verdade" (1960), "O Desprezo" (1963), "Viva Maria!" (1965) e "As Petroleiras" (1971). No total, atuou em 56 filmes antes de encerrar a carreira em 1973. Relembre papéis icônicos de Brigitte Bardot A persona pública de Brigitte Bardot extrapolava a arte. Desde cedo, ela chamou atenção por desafiar convenções sociais: apareceu de biquíni no Festival de Cannes em 1953 e, anos depois, provocou ao comparecer ao Palácio do Eliseu usando calças, em um período em que mulheres eram esperadas em saias ou vestidos em eventos oficiais. Sua vida pessoal foi intensamente acompanhada pela imprensa e se tornou parte central de sua imagem pública. Além de Roger Vadim, Bardot se envolveu com atores como Jean-Louis Trintignant, Jacques Charrier e Sami Frey; músicos como Gilbert Bécaud, Serge Gainsbourg e Sacha Distel; e o fotógrafo Gunter Sachs. Mais tarde, casou-se com o empresário Bernard d’Ormale. Essa sucessão de relacionamentos, vivida sem discrição e sem pedido de desculpas, contribuiu para que Bardot fosse vista como símbolo de autonomia feminina em plena revolução sexual. A escritora Simone de Beauvoir resumiu o incômodo que ela provocava: “Ela faz o que lhe agrada, e é isso que perturba". Por trás da imagem pública de liberdade e sensualidade, Brigitte Bardot enfrentou longos períodos de depressão e problemas com alcoolismo. Em 1960, ficou grávida de seu primeiro e único filho, Nicolas Jacques Charrier, fruto do relacionamento com o ator Jacques Charrier. Em sua autobiografia “Initiales B.B.” (“Iniciais B.B.”), lançada em 1996, Bardot relatou momentos de profundo sofrimento psicológico e descreveu uma tentativa de aborto, episódio que gerou grande repercussão na França. Brigitte Bardot em 1963 e 2001 Jack Guez/AFP e Screen prod./Photononstop/AFP Paixão pelo Brasil Em 1964, Brigitte Bardot passou uma temporada no Brasil em busca de anonimato. Após desembarcar no Rio de Janeiro e negociar com a imprensa alguns dias de tranquilidade, seguiu para Armação dos Búzios, então um vilarejo de pescadores sem infraestrutura. Encantada com o isolamento, permaneceu no local por cerca de três meses e retornou no fim do mesmo ano. Décadas depois, a atriz descreveu a experiência como um período de vida simples, longe dos holofotes. Sua passagem por Búzios teve impacto duradouro: o local ganhou projeção internacional e se transformou em destino turístico. Em sua homenagem, a cidade criou a Orla Bardot e instalou uma estátua da atriz, que se tornou ponto turístico. Apesar disso, Bardot lamentava as transformações do balneário ao longo dos anos. Bigitte Bardot Sergio Quissak/Prefeitura de Búzios Afastamento do cinema e ativismo Em 1973, aos 38 anos, Brigitte Bardot decidiu encerrar definitivamente sua carreira artística após o filme "Colinot Trousse-Chemise". Cansada da fama e da perseguição dos paparazzi, retirou-se da vida pública e passou a viver de forma reclusa em sua casa, La Madrague, em Saint-Tropez. Desde então, dedicou-se integralmente à defesa dos animais, causa que dizia acompanhar desde a infância. Criou a Fundação Brigitte Bardot e se tornou uma das vozes mais ativas da militância animal na França. Lutou contra a caça de focas no Canadá, as touradas na Espanha, o consumo de carne de cavalo e o uso de animais em testes laboratoriais. Costumava afirmar que os animais que abrigava em sua casa eram sua verdadeira família. Em livros e entrevistas, Bardot dizia que a militância a havia "salvado" do desgaste psicológico causado pela fama e que se sentia mais próxima dos animais do que dos humanos, defendendo a ideia de um "futuro comum" entre todas as espécies. A atriz francesa Brigitte Bardot é fotografada no set do filme "Se Don Juan Fosse Mulher", dirigido por Roger Vadim, em Estocolmo, em 4 de agosto de 1972 AFP Polêmicas e posições políticas Os últimos anos da vida de Bardot foram marcados por declarações polêmicas e condenações judiciais. Em 2021, ela foi condenada na França por insultos racistas contra moradores da ilha de Reunião, após enviar uma carta com declarações consideradas ofensivas, conforme divulgado pela agência de notícias France Presse. O caso gerou forte reação de autoridades, entidades antirracistas e defensores dos direitos humanos. Bardot também se aproximou da extrema direita francesa, manifestando apoio ao partido Reunião Nacional e a figuras como Jean-Marie e Marine Le Pen. Embora afirmasse evitar debates políticos fora da causa animal, defendeu posições nacionalistas e fez críticas públicas a presidentes franceses, ambientalistas e ao movimento feminista #MeToo. Brigitte Bardot Remy de la Mauviniere/AP Saúde Nos últimos anos, Brigitte Bardot viveu de forma cada vez mais isolada. Alternava-se entre sua casa em Saint-Tropez e uma propriedade no interior, onde abrigava animais. Dizia não usar celular nem computador e fazia raras aparições públicas. Em 2023, sofreu episódios de dificuldade respiratória e recebeu atendimento médico em casa. Em outubro de 2024, foi hospitalizada em Toulon para uma cirurgia considerada simples, teve alta no mesmo mês e voltou para casa, onde se recuperava. A morte da atriz foi anunciada pela Fundação Brigitte Bardot. Em nota, a instituição afirmou que Bardot era "atriz e cantora de renome mundial, que optou por abandonar sua prestigiada carreira para dedicar sua vida e energia ao bem-estar animal e à sua fundação". A fundação destacou ainda a relação afetiva da atriz com o Brasil. As possíveis causas da morte não foram divulgadas até a ultima atualização desta reportagem. O falecimento da atriz provocou repercussão imediata no país. O presidente francês, Emmanuel Macron, lamentou a perda e declarou: “Seus filmes, sua voz, sua fama deslumbrante, suas iniciais, suas tristezas, sua generosa paixão pelos animais, seu rosto tornaram a atriz numa vida de liberdade, uma existência francesa, um brilho universal. Ela nos tocou. Lamentamos a perda de uma lenda do século”. Depois de 4 meses em restauração, estátua de Brigitte Bardot volta à orla de Búzios